Soja: Com baixa do dólar e perdas em Chicago, preços caem também no Brasil
Na sessão desta quarta-feira (19), os futuros da soja na Bolsa de Chicago fecharam o dia perdendo mais de 17 pontos nos principais vencimentos. O mercado, ao longo do dia, foi ampliando suas perdas e assim o contrato janeiro/15 encerrou os negócios valendo US$ 10,05 por bushel, com queda de 17,75 pontos, enquanto o vencimento maio, referência para a safra brasileira, ficou em US$ 10,19, caindo 18 pontos.
No Brasil, os preços da soja nos portos acompanharam o movimento negativo e também recuaram, refletindo as baixas em Chicago e mais uma queda do dólar frente ao real. Assim, em Paranaguá, a soja com entrega para maio/15 fechou o dia valendo R$ 63,00 por saca, caindo 1,56%. No porto de Rio Grande, a queda foi mais acentuada – de 3,08% – e o preço também ficou em R$ 63,00 para a soja futura. Já o produto disponível manteve os R$ 65,00.
No mercado disponível, as cotações também recuaram. Em Ubiratã e Londrina, no interior do Paraná, ambas caíram 1,69% e ficaram em R$ 58,00 por saca, enquanto em Cascavel/PR o preço ficou estável em R$ 59,00. Já em Não-Me-Toque, no RS, a cotação recuou 0,85% para R$ 58,00, e em Jataí, Goiás, queda de 0,30% para R$ 53,50.
Pelo segundo dia consecutivo, o dólar caiu com as expectativas sobre o novo ministro da Fazenda do Brasil. A moeda norte-americana perdeu 0,56% e terminou o dia a R$ 2,57. “O mercado está nervoso porque não sabe como vão ser os próximos anos, então corre atrás de qualquer conversa sobre possíveis ministros”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno à agência de notícias Reuters.
Bolsa de Chicago
Alguns fatores como a finalização da grande safra norte-americana e previsões de melhores condições de clima para o desenvolvimento da nova safra da América do Sul têm pressionado as cotações nos últimos dias e motivando essa intensa realização de lucros observadas nas últimas sessões. E essa pressão de liquidação da posições ainda está muito forte e presente entre os negócios, explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
“Esses dois fatores acabam fazendo com que os fundos vendam e realizem lucros. O mercado está muito técnico, está testando a baixa para depois voltar a reagir. Eu acredito em um intervalo de preços ainda entre os US$ 10,00 e US$ 12,00 em Chicago para a safra que vem pela frente, mas esse é um momento em que estamos mais perto das mínimas do que das máximas”, explica.
Para o consultor, o patamar de suporte para as cotações nesse momento continua sendo os US$ 10,00 e é importante para o bom andamento das cotações que ele seja mantido. Assim, a resistência ser quebrada para que novas altas sejam observadas passa a ser, portanto, os US$ 10,50, para que os preços recuperem os US$ 10,70 ; US$ 10,80. Mais a frente, porém, o mercado, ainda segundo Brandalizze, pode buscar melhores níveis e trababalhar entre os US$ 10 e US$ 12, principalmente no início do próximo ano.
Oferta – EUA e Brasil
De acordo com o último boletim de acompanhamento de safras divulgado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a colheita, até o último domingo (17), já havia sido concluída em 94% da área e, com isso e mais uma capacidade de armazenagem completamente comprometida, os produtores norte-americanos voltaram às vendas, mais ainda de forma tímida.
“Há uma pressão da finalização da colheita nos Estados Unidos e os silos por lá estão cheios, o que fazem os produtores americanos venderem um pouco mais. E essa pequena melhora no ritmo da comercialização acaba atuando como um fato negativo para o mercado”, diz Brandalizze.
Ao mesmo tempo, novas previsões climáticas indicam a ocorrência de boas chuvas em importantes regiões produtoras da América do Sul, principalmente na próxima semana. Mapas do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), que é o departamento oficial de clima do governo americano, mostra que de 25 de novembro a 1ª de dezembro, algumas localidades devem receber mais de 130 mm de precipitações e essas perspectivas também pesam sobre os negócios imediatamente.
As previsões de institutos internacionais de meteorologia, como o MDA Weather, indicam que as precipitações nos próximos 10 dias poderão contribuir para a umidade no solo e ajudar na evolução do plantio da safra 2014/15, que ainda se mostra atrasado em relação à temporada anterior.
Previsão de Chuvas de 18 a 24 de novembro – Mapa: NOAA
Previsão de Chuvas de 25 de novembro a 1º de dezembro – Mapa: NOAA
Dessa forma, ainda vigoram para os investidores que atuam no mercado futuro americano, as projeções que o Brasil, ainda de acordo com Brandalizze, possam colher uma safra de 94 a 96 milhões de toneladas, número que não deve ser alcançado devido ao cenário adverso de clima observado desde o início da nova temporada no país.
“Esses dois fatores acabam fazendo com que os fundos vendam e realizem lucros. O mercado está muito técnico, está testando a baixa para depois voltar a reagir. Eu acredito em um intervalo de preços ainda entre os US$ 10,00 e US$ 12,00 em Chicago para a safra que vem pela frente, mas esse é um momento em que estamos mais perto das mínimas do que das máximas”, explica o consultor da Brandalizze Consulting.
Menor potencial produtivo – Os relatos que chegam de importantes regiões produtoras dão conta de que muitas áreas não atingirão os índices de rendimento inicialmente projetados, uma vez que as chuvas previstas não se confirmaram, as plantas morreram em muitas localidades e outras áreas tiveram ainda de ser replantadas, em alguns casos, até três vezes.
Além disso, em locais onde as lavouras foram implantadas dentro da janela normal de tempo, as plantas receberam muita ensolação e pouca pluviometria, como explicam os especialistas, se desenvolvendo mal e com um potencial produtivo severamente comprometido. A falta de umidades em algumas regiões de Mato Grosso tem impedido até os produtores de aplicarem seus defensivos para conter as ervas-daninhas.
“As perdas já existem, precisamos agora acompanhar para saber qual será a extensão disso. Muitas lavouras que foram plantadas primeiro, logo depois do fim do vazio sanitário, já estão em período de floração e já não têm mais tempo para se recuperar, já que estão em sua fase reprodutiva. Os stands estão baixos e há poucas plantas. Para esses locais, a produtividade esperada pelos sojicultores é de algo entre 30 e 40 sacas por hectare somente”, relata Vlamir Brandalizze, da região de Nova Maringá, no noroeste de MT.
No Paraná, por exemplo, ainda segundo o consultor, o crescimento esperado para a área de algo entre 150 mil e 200 mil hectares deve ser confirmado, porém, não se espera um incremento na safra do estado, justamente em função desse menor potencial produtivo da oleaginosa.
Demanda
Sobre a demanda e o consumo mundial da soja, as perspectivas ainda são positivas e deverão ser, de acordo com os analistas, o mais importante fator de suporte para as cotações. A China deverá importar cerca de 74 milhões de toneladas de soja nesta temporada e, até o momento, já adquiriu 24,7 milhões da oleaginosa norte-americano. “Ou seja, ainda falta um grande volume para completar essa perspectiva”, diz o consultor.
Nesta quarta, o USDA anunciou mais uma venda de soja para destinos desconhecidos, nesse caso de 125 mil toneladas, com embarque ainda para a temporada 2014/15. Esse é o terceiro anúncio feito somente esta semana. Além disso, novos números de vendas para exportação serão reportados pelo departamento agrícola americano nesta quinta-feira (20) e podem trazer uma movimentação para o mercado.
Em seu último boletim, o USDA mostrou que no acumulado da temporada comercial 2014/15, as vendas já totalizam 36.719,6 milhões de toneladas, ou 82% do total da última estimativa do USDA para as exportações do país de 46,81 milhões de toneladas.
Fonte: Notícias Agrícolas