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Obrigado servidora! A história de vida de Vânia Quirina dos Santos Fernandes

“Eu cheguei a Chapadão do Sul no ano de 1986, em busca de minha independência, pois, desiludida com o primeiro casamento, tinha uma filha para criar”. Dona Vânia Quirina dos Santos Fernandes tem 53 anos, é sul mato-grossense, nascida em Paranaíba. Filha de Seu Domingos e de Dona Maria Quirina (falecidos), tem três irmãos, duas filhas, uma neta e a família está prestes a aumentar pois tem outra netinha a caminho. Com o sentimento de missão cumprida e bem cumprida, aposentou-se no mês de fevereiro de 2018 e compartilhou conosco um pouco de sua bela história de vida.

Não é de hoje que Chapadão do Sul tem a fama de serviço farto e naquela época o que estava em falta eram bons professores. Vânia, por um desejo intenso de conquistar sua liberdade e finalmente dizer que é dona do próprio nariz, arrumou suas coisas e veio de mala e cuia para cá, seu novo lar, onde está até hoje! A fama da cidade logo fez jus e Vânia conseguiu arrumar não apenas um período para dar aulas, mas dois. Um de manhã e outro à noite.

Ouvir a história de vida de um professor é emocionante, principalmente quando descobrimos que o amor à profissão e as tarefas não param apenas em sala de aula. Vânia nos contou da precariedade da escola onde lecionava, da falta de energia elétrica e que sua função ia muito além de lecionar: participava também na elaboração da merenda e limpeza da escola. Conta que o material escolar era escasso, que muitas vezes pegava parte de seu salário e o adquiria para trabalhar com os alunos.

Apesar de todo o esforço e amor que empenhava em suas atividades dentro da escola, foi desacreditada e conseguiu ser efetivada em um período apenas, no outro período era contratada, pois a Diretora da Escola a achava muito magrinha e nova e, talvez não “desse conta” de dois turnos de aula. Mal sabia a diretora que Vânia possuía muita garra e determinação e que, em seu vocabulário, a palavra desistir não existia, afinal Vânia sempre foi uma guerreira e, tampouco sabia a diretora do esforço empreendido para chegar à escola.

Morou por 5 anos na casa de conhecidos, residência que ficava a 12km da cidade, na sede da fazenda Campo Bom. Saia cedo e retornava para o almoço, mas o ônibus levava só até a sede, de lá até a casa Dona Vânia pegava carona com uma carroça que descia para pegar o leite. Muitas vezes, chegava em casa e a comida já estava fria ou tinha acabado, era o tempo de comer rapidamente, se arrumar e pegar novamente carona com a carroça, que agora retornava carregada de leite. Passava parte da tarde no ponto de ônibus, aguardando anoitecer para o ônibus passar e assim poder dar o segundo período de aula. Acho que Vânia daria conta de até 3 turnos, a diretora se enganou com a sua juventude e magreza.

 

Após esse período difícil, a família mudou-se da fazenda, e Dona Vânia veio morar na cidade com mais 5 colegas, em uma casa de madeira na esquina do Banco HSBC, e a ideia dos 3 turnos pegou, pois foi obrigada a deixar a casa confortável de madeira e não teve outra escolha a não ser morar um tempo em uma sala de aula dentro da escola.

Deus sempre escreve certo por linhas tortas e, com uma mão Deus tira o pai de Vânia, que faleceu no ano 1990, mas com outra trouxe sua mãe e sua filha que moravam com seu pai, para perto dela. Aproveitaram um gado que tinham para fazer o negócio e comprar uma casa. Agora não precisava mais dividir uma sala de aula com as amigas, tinha casa e estava rodeada pela família.

“Juntar o útil ao agradável”, foi isso que Vânia fez para auxiliar na renda mensal. Nos finais de semana, à sombra de uma árvore, Dona Vânia reunia as conhecidas e fazia suas unhas. “Chegava sábado e domingo, eu fazia unha, porque aqui não tinha manicure, juntavam 20 a 30 senhoras: era nora, sogra, neta, juntava aquela turma…”

Estar acomodada diante da situação nunca foi um traço da personalidade de Vânia e diante da perspectiva de melhorar de vida, ela sabia que apenas o magistério não lhe garantiria uma situação mais confortável, que a saída seria estudar mais. Foi então que, incentivada também pelo prefeito da época, seu Schultz, começou a fazer faculdade na cidade de Jales (SP). Conta que para estudar era preciso pagar uma professora substituta para ficar em seu lugar, que pegava carona com caminhões de carvoaria, que muitas vezes dormiu dentro de igrejas, pois não tinha dinheiro para pagar hotel, tampouco para comer.

“Em 1998 minha mãe resolveu falecer”, foi dessa forma que nos contou como seu braço direito a deixou e de como foi difícil, com duas filhas, solteira, seguir a vida. Dona Vânia sempre gostou muito de uma frase: “Posso todas as coisas n’Aquele que me fortalece” e, apegada à certeza de que sua força era renovada diariamente, Vânia não desistiu, pelo contrário, em 2001 passou no concurso municipal para Especialista em Educação, em 4º lugar, colhendo os frutos de seu esforço em fazer faculdade.

Vânia ganhou forças que não imagina ter para correr atrás dos sonhos, ganhou novos sonhos e em 1999 ganhou um companheiro, o Arnaldo, com quem pode dividir toda sua vida e as preces de saúde, paz, amor, juntar dinheiro, conseguir um diploma novo, um emprego melhor, carro, casa própria, as filhas, por fim estavam realizados.

Aquela moça magrinha, desacreditada pela diretora da época, encerra sua carreira profissional sendo ela mesmo diretora! Diretora das Escolas Rurais: Aroeira, Ribeirão e Pedra Branca. Vê sua trajetória coroada com êxito. Aposentada, pretende viajar para o nordeste, fazer aulas de violão e de pintura, as quais, segundo ela, são coisas que admira muito, mas nunca teve tempo para isso. Além do trabalho na igreja que já vem fazendo, Vânia quer se dedicar ainda mais à obra de Deus.

A paixão em lecionar, a bravura que enfrentou as dificuldades e o bom humor permanente, mesmo tendo vivenciado tristezas profundas, foram as características que mais se destacaram ao ouvirmos está história de vida que certamente serve de exemplo e inspiração a muitos colegas de classe, traços de uma verdadeira guerreira e vencedora! Vânia, estamos todos inspirados em sua história.

Texto: Ana Caroline Leviski

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